Os dez conselhos para uma escola bem sucedida: Claudio de Moura Castro

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Artigo Publicado em: 18 Outubro 2020

Claudio de Moura Castro

1) Os melhores professores nas primeiras séries: a mais preciosa das decisões

Alunos de sucesso nas primeiras duas séries, geralmente, continuam tendo êxito nas séries subsequentes.

Se escolhermos os melhores professores de português para o início da escolarização, garantimos o sucesso escolar de todos os alunos.

Sabemos que os melhores professores se caracterizam por:

  • Já acumular bons anos de experiência.
  • Ter um conceito positivo de si mesmos e do seu trabalho.
  • Ter expectativas positivas com relação a todos os seus alunos.
  • Conseguir fazer com que todos os alunos aprendam.

O bom professor é aquele que leva seus alunos a aprender bem o que precisam aprender, no ritmo correto.

Indicar os melhores professores de português para os dois primeiros anos é a melhor forma de assegurar o êxito educativo da nossa juventude.
2) A duração do ano escolar: mais se estuda, mais se aprende

Os países com economias mais produtivas são aqueles em que o ano escolar é mais longo. Desta forma, os alunos aprendem mais e melhor. Ademais, um estudo mais intensivo prepara o aluno para a ética do trabalho.

Um ano escolar mais longo e rico em experiências educativas permite que mais alunos atinjam os níveis de aproveitamento esperado. E também, permite melhor apoiar os alunos que se atrasam.

É nossa responsabilidade aproveitar cada minuto do ano escolar e planejá-lo cuidadosamente, para que seja possível oferecer o máximo de experiências educativas.
3) As expectativas positivas: devemos sempre esperar o melhor

Se todos os adultos com quem as crianças têm contato (professores, pais, familiares) têm um conceito positivo delas e expectativas otimistas, elas irão desenvolver conceitos positivos de si próprias.

Se o ambiente escolar premia solidariedade, cooperação e honestidade, os alunos facilmente incorporam estes valores.

As crianças sempre querem agradar os adultos com seus comportamentos. Mas para capitalizar nesse impulso das crianças é preciso:

  • Clareza sobre o que se espera delas.
  • Que vejam os bons exemplos nos adultos.
A formação moral começa com o aumento da autoestima, com clareza acerca do que se espera da criança e com bons exemplos dos adultos.
4) O certo e o errado: as crianças sabem

As crianças distinguem o bem do mal e o certo do errado. Sabem o que é justo e o que é injusto.

Esperam que se premie o bom e se puna o mau comportamento.

Diante de um comportamento arbitrário, tornam-se rebeldes e anárquicas.

As crianças desde muito cedo desenvolvem um julgamento moral e distinguem o certo do errado. A rebeldia resulta de contradições observadas nos adultos.
5) A importância do caderno: é a primeira obra literária dos alunos

Bons professores têm especial cuidado com os cadernos, pois ali os alunos expressam o que sabem, da maneira como sabem. Observando os cadernos com cuidado é possível conhecer os avanços e as limitações dos alunos.

Os professores experientes ensinam ordem e clareza, através dos cadernos. Ensinam aos alunos a expressar suas ideias, seja por escrito ou em desenhos.

Os professores experientes revisam com frequência os cadernos e obtêm deles informações preciosas sobre os seus alunos. Fazem nos cadernos anotações úteis para os alunos e para os pais. As observações escritas no caderno são uma ferramenta de comunicação com a família.

Exposições na escola com os melhores cadernos fortalecem as relações entre os pais dos alunos e a escola.

O caderno é a primeira obra literária do aluno, ali ele expressa suas ideias por escrito. E no mundo atual, a comunicação escrita tornou-se indispensável.
6) O dever para casa: a escola vai à casa do aluno
Alunos que recebem dever para casa têm um rendimento escolar superior.

Mas para dar certo, é preciso que os deveres:

  • Sejam atraentes.
  • Possam ser realizados com o que se aprendeu na aula.
  • Sejam apropriados ao nível social dos alunos.
Dar deveres não basta, é preciso corrigir. Os bons professores sabem que sem correção frustram-se os alunos e se desmotivam para os deveres futuros.

O “para casa” é também um instrumento de comunicação com a família.

As reuniões entre professores para dialogar acerca das melhores formas de propor deveres adequados e atraentes são uma das formas de melhorar o rendimento dos alunos.
7) A importância dos amigos: é nesses grupos que se nutrem os valores

Alunos com colegas bem sucedidos tendem a obter rendimentos superiores. Daí a importância de distribuir os melhores alunos dentre as diferentes turmas. Não é uma boa ideia juntar em uma mesma turma os alunos de rendimento mais fraco.

Os amigos e companheiros são os que mais influem na formação dos valores. Daí a importância de planejar atividades, festas e competições levando o grupo em consideração. As lideranças espontâneas devem ser cuidadosamente observadas e distribuídas da melhor maneira possível.

É preciso programar as atividades escolares e extraescolares, levando em consideração os grupos existentes, pois isso pode contribuir para melhorar o rendimento e o clima da escola.
8) Os livros escolares: a alegria de ler

Os livros-texto, os livros e os materiais de leitura devem ser usados frequentemente, tanto na escola como em casa. Sabe-se que têm um efeito muito positivo sobre o rendimento dos alunos.

O domínio da língua falada e escrita é essencial para o aprendizado. E em particular, para usar computadores, manejar equipamentos modernos e obter bons resultados em concursos e em qualquer tipo de trabalho.

Tais competências são mais facilmente adquiridas se os alunos, desde o início da escolarização, estão em contato com livros e revistas.

As bibliotecas e as leituras contribuem para o êxito presente e futuro do aluno.
9) A promoção automática: o maior desafio

Repetir o ano não leva a aprender mais e destrói a autoimagem. O aluno aprovado sem saber aprende mais do que o aluno que foi reprovado e repete. Quase sempre, é melhor promover do que reprovar.

A promoção automática elimina as provas que aprovam ou reprovam. Por isso, a avaliação ao longo do curso se torna, então, muito mais importante. É preciso verificar todos os dias se os alunos estão aprendendo corretamente o que deveriam aprender. Promoção automática requer mais avaliação e não menos.

Se não aprendem, a cada dia, o que deveriam aprender, a promoção automática é um engodo. Simplesmente, leva o aluno acumular ignorância ao longo dos anos.

A promoção automática tem o potencial de devolver ao mestre toda a plenitude de sua função profissional: criar e manter as condições para que o ensino fundamental leve todos os alunos ao sucesso escolar. Mas o desafio é grande, pois mal utilizada pode minar os estímulos para os alunos e desencorajar os professores.
10) A educação para todos: a grande meta nacional

A educação existe para que todos os alunos possam aprender com êxito.

Não há prejuízo maior para uma sociedade do que o aluno não aprender a tempo o que se deveria aprender. O fracasso escolar tem péssimas consequências econômicas e sociais.

Os alunos não são culpados do seu fracasso. Somos nós, os adultos, que não soubemos criar as condições para o êxito escolar.

Precisamos formar uma nova geração solidária, criativa e bem sucedida na escola, desde o primeiro dia de aula.
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Claudio de Moura Castro

Claudio de Moura Castro (1938) é um economista brasileiro, atualmente preside o Conselho Consultivo da Faculdade Pitágoras e é Diretor de Novas Metodologias da Faculdade da Saúde e Ecologia Humana. É graduado em Economia pela Universidade Federal de Minas Gerais, mestre pela Universidade Yale e doutor pela Universidade Vanderbilt. Castro foi professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, da Fundação Getúlio Vargas, da Universidade de Chicago, da Universidade de Brasília, da Universidade de Genebra e da Universidade da Borgonha. Trabalhou no Banco Mundial e no Banco Interamericano de Desenvolvimento, presidiu a CAPES de 1979 a 1982, foi secretário-executivo do Centro Nacional de Recursos Humanos de 1982 a 1985 e técnico do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada de 1970 a 1985, conhecido como conservador e adepto do liberalismo, tem uma coluna quinzenal na revista Veja desde setembro de 1996, e escreve sobre educação no Brasil.

Fonte: Wikipedia

Inspiração

Bernardo Toro é um educador colombiano que sabe o que é importante em educação e aprendeu a mostrar isso aos professores, com um estilo simples, claro e persuasivo. Em suas passagens pelo Ministério da Educação daquele país, preparou uma série de cartazes, destilando o que a melhor pesquisa mostrava sobre as causas do êxito e do fracasso na escola. Bernardo já veio, várias vezes ao Brasil, deixando discípulos e marcas indeléveis, sobretudo em Minas Gerais.

Visitando o Ministério da Educação da Colômbia, colado à parede estava um dos cartazes preparados por ele, com sugestões para escolas de ensino fundamental. Pedi licença e, sem esperar muito por uma resposta, retirei o cartaz. O presente texto é minha adaptação para o Brasil do que havia preparado Bernardo.
Bernardo Toro

Bernardo Toro, um dos grandes nomes da educação na América Latina. (Foto Divulgação)