Volta às aulas presenciais: os desafios da readaptação para alunos e professores

31 de dezembro de 2019. Véspera de um novo ano. Data em que a China anunciou a descoberta do SARS-CoV-2. Menos de três meses depois, em março de 2020, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou a pandemia de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus.
Desde então, os últimos anos têm sido como uma montanha-russa de emoções: isolamento, perdas, reorganizações, mais perdas, mais readaptações. Famílias inteiras trabalhando e estudando dentro de casa, dividindo tempo e espaço, sem válvula de escape para a saúde mental - lembrando que nem todos sequer tiveram a oportunidade de continuar estudando por falta de estrutura online.
Segundo Débora Fernanda Joselino de Oliveira, psicóloga e coordenadora do Curso de Psicologia do Centro Universitário Anhanguera de Santo André, o maior desafio durante o período pandêmico foi adaptar os conteúdos para o ensino a distância. "Os estudantes também tiveram que se ajustar e é natural que, nesse processo, nem todos os temas tenham sido compreendidos em suas totalidades”, explica ela.
Conteúdo é importante, saúde mental também
Logo, com o avanço do programa de imunização e o retorno à rotina escolar como conhecíamos antes, Débora explica que "os professores foram orientados a, no planejamento de aulas, disponibilizarem um tempo para a realização de revisões de conteúdos para resgatar os conceitos ensinados e garantir que os estudantes aprendam aquilo que é essencial para o desenvolvimento das disciplinas”.
Além do conteúdo, voltar à convivência presencial e à necessidade de deslocamento exige muito da habilidade de cada um para lidar com transformações e se ajustar às novas circunstâncias.
Por isso, a psicóloga também chama a atenção para o cuidado com a saúde mental tanto de alunos quanto de professores: "Os dois últimos anos não foram fáceis para alunos e professores, pois alguns foram contaminados, perderam familiares e colegas de turma, e estão muito fragilizados. O retorno precisa ser coordenado com muita cautela. Fato é que muitas coisas são diferentes agora, e é preciso tomar cuidado com a maneira que todos reagirão a essa nova fase. Devemos pensar em como fazer essa readaptação à rotina das aulas de forma organizada, sem traumas e com muito acolhimento dos professores, além de seguir os protocolos de segurança exigidos pela ocasião”.
Estratégias de readaptação
"Foram realizados encontros com as turmas que começaram a graduação durante a pandemia para que pudessem conhecer a biblioteca, os laboratórios e mais detalhes do campus, além de criar momentos de acolhimento e esclarecimento com a coordenação do curso e a direção”, revela Débora.
Ela elucida ainda que propor atividades que promovam a interação, seguindo sempre os protocolos sanitários, pode ser uma solução para estimular o retorno com mais segurança emocional.
Rodas de conversa são uma ótima opção: "Os alunos se sentem acolhidos porque entendem que não são só eles que estão angustiados; socializam as emoções; faz com que percebam que todos estão juntos para superar esse momento de retorno”, argumenta.
Como lidar com a resistência?
A psicóloga esclarece que é comum haver resistência por parte dos alunos ao retorno das aulas presenciais.
"A pandemia ainda não acabou. Muitos alunos vêm de um longo período sem ir presencialmente à faculdade ou até mesmo sem conhecer o campus, ou seja, em que se acostumaram a estudar de casa, do trabalho e até mesmo em trânsito, entre casa-trabalho ou trabalho-casa. Portanto, na prática, é um novo intervalo de adaptação e organização dos horários”, destaca ela.
Débora lembra também que, muitas vezes, o receio e o medo relacionados à volta das aulas presenciais são um reflexo da própria insegurança da família. Portanto, é imprescindível que o ambiente acadêmico demonstre apoio e proporcione acolhimento, para mitigar os prejuízos emocionais e oferecer mais tranquilidade a todos os envolvidos.
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